Seja bem-vindo quem vier por bem
Receber novas pessoas numa equipa é um desafio para quem chega e para quem já lá mora. O que é que podemos (e queremos) fazer para estar mais à altura do que espera quem vem e quem abre a porta?
Consideremos uma equipa como um sistema com características, modos de ser e de estar próprios, hábitos, crenças, regras e rotinas que concorrem para o seu funcionamento (mais ou menos) harmonioso, estável e efectivo. Ora, num sistema assim montado, a chegada (ou a saída) de novas pessoas à equipa: 1) desafia a sua estabilidade; 2) cria resistências; 3) ao mesmo tempo que é uma excelente oportunidade de, com expectativa, abertura, curiosidade, vontade e candura suficientes, com medos, até, “reprogramar” o sistema, fazendo-o beneficiar das múltiplas qualidades e competências de todas as pessoas que dele passam a fazer parte. E se mudança (1) cria necessidade, e sendo uma necessidade, por definição, a falta de algo que é necessário, na Way Beyond dizemos que, geralmente, quando falta alguma coisa é porque falta uma conversa (2).
É esta a base do nosso modelo de conversação(2): 1) criar relação, 2) explorar possibilidades; 3) coordenar acções.
O mesmo modelo, diria, poderá ser adoptado para a integração de novas pessoas. Abrir a porta é abrir-se ao novo, ao desconhecido e, por isso, em primeiro lugar, à criação e consolidação da relação. Através de quê? De conversas, aqui entendidas como:
- O “lugar dos amigos”, em que se cuida do conforto, da segurança psicológica e da dimensão social do trabalho ligada ao tempo e espaço a partir dos quais aprendemos e encontramos o nosso lugar, conhecendo(-nos) e dando-nos a conhecer e, por isso mesmo, ao espaço que temos para errar, perguntar, responder, corrigir, fazer melhor;
- A mais “avançada tecnologia” para procurar e encontrar o melhor alinhamento de cada um com valores, missão, propósito individuais, da equipa e da organização;
- O veículo primordial para passarmos a pertencer, para encurtarmos distâncias e ampliarmos cumplicidades, conhecendo melhor quem é quem, o que faz e como faz cada um, o que fazemos e como fazemos em conjunto, que qualidades e competências temos que nos permitirão colaborar mais e melhor.
Tenhamos, para isso, também bons chefes(3), daqueles que desafiam e apoiam na mesma medida, que têm prazer em conhecer as suas pessoas e em darem-se a conhecer, em desafiarem-nas, porventura deixando-as, aqui e ali, na corda bamba necessária à aprendizagem, ao crescimento, mas estando lá para ajudar a colocar um pé à frente do outro para percorrer o caminho e chegar à meta. Com o espaço e tempo necessários para que possamos “percorrer o nosso canto(4) com um tempo próprio, equilibrando confiança, responsabilidade, dúvidas, conquistas. Assim, naturalmente, num exercício permanente de empatia e transparência e honestidade asseguradas, entre outras, pelo prazer de conversar e de descobrir o outro e pelo orgulho de o ver descobrir e encontrar o seu propósito”(5).
Escrito para o LAB da Adagietto a 9 de Março de 2022; publicada a 22 de Março de 2022.
(1) Sobre mudança, poderá ver também: https://www.waybeyond.pt/textos/esta-mudanca-esta-diferente.
(2) Se quiser conhecer melhor o nosso modelo de conversação, veja: https://www.waybeyond.pt/textos/as-conversas-dos-apaixonados-e-das-equipas.
(3) https://www.waybeyond.pt/textos/voltemos-a-querer-ter-e-ser-bons-chefes
(4) No significado atribuído por Rilke: existência.