Falta pensar
Muitas vezes penso que, nos dias que correm, nos falta pensar.
Neste mundo em que vivemos, entusiasmados e entretidos pelos avanços tecnológicos e científicos, que nos empurra constantemente nas direcções da produtividade, eficiência e eficácia, da felicidade a todo o custo, do equilíbrio permanente, da criatividade forçada, etc., parece faltar o espaço para pensar.
Pergunto-me, a que prestamos atenção? A que dedicamos tempo para pensar?
Embora conceba que possa ser muito sectário ou injusto, e que a minha perspectiva possa ser muito curta e limitada, frequentemente tenho a sensação de que hoje as nossas reflexões precisam de “queimar muito mais combustível” para passar a barreira da superficialidade, para se libertarem dos lugares comuns, das ideias feitas e do fundamentalismo. A tendência para quantificar, para concretizar, para coisificar o que é da natureza e do funcionamento humanos deixa os nossos pensamentos “pela rama” ou, podendo mesmo ser pior, evita que coloquemos em causa as opiniões que vamos construindo.
Por exemplo, um dos mais respeitados “homens da ciência”, Stephen Hawking, diz-nos que a filosofia está morta, que não conseguiu acompanhar os avanços tecnológicos e científicos. Nada melhor ilustra esta minha inquietação e frustração — uma visão tendenciosa e uma compreensão parcial da realidade, a assunção da “verdade” como única, inabalável e inalterável, a não ser através de determinados métodos e formas de pensar. Não admira o desinvestimento, que se nota a vários níveis, na Arte e na Cultura, por exemplo.
Vive-se num paradigma de escassez, e com toda a legitimidade, já que os recursos são cada vez mais escassos. Mas este paradigma instalou-se de forma profunda. Até o o tempo se tornou escasso. Vivemos a correr para alcançar a próxima meta, para conseguir o objectivo seguinte, para que nada nos falta, sobretudo a almejada “felicidade” e o querido “bem-estar”. Nenhum dos caminhos que poderão levar a esses estados se coaduna com a tendência para a superficialidade, antes referida. Mais um dos muitos paradoxos e contradições que nos constituem e nos caracterizam enquanto seres humanos.
Consumimos informação de forma desenfreada, sem a preocupação nem o cuidado de a transformar em conhecimento ou sabedoria. Procuramos estar a par de tudo, sempre. Não nos conformamos com as nossas capacidades limitadas. A mais básica dessas limitações está relacionada com o tempo: precisamos de dormir, todos os dias; sabemos que a nossa estadia aqui, assim, não é eterna.
Ao mesmo tempo que tudo isto acontece, há uma sede de sentido para as vidas que levamos. Sede essa que, recorrendo aos paradigmas vigentes e às tendências mais evidentes, será insaciável.
Tempo, reclame-se o tempo! Tempo para pensar e para aprender a pensar de formas diferentes. Tempo para pensar melhor, portanto.