Como Quem Volta a Casa

A entrada de uma nova pessoa numa equipa é, habitualmente, um período de ajustes e de procura de novos equilíbrios. O que se segue não é uma “receita para integração de pessoas”, mas sim um contributo possível para este exercício que é menos simples do que parece.

Está a fazer um ano que me mudei para a Way Beyond 🥳. É tempo de celebrar e de dizer em voz alta as qualidades desta equipa!

Quando entrei nesta casa não sentia que pisava o seu chão de madeira pela primeira vez. Sentia, sim, que estava a voltar à casa de onde tinha saído nem fazia cinco minutos, tal não era o sentimento de já lhe conhecer os habitantes e os cantos. Um sentimento semelhante àquele que temos quando reencontramos um velho amigo que não vemos há já uns anos e conversamos com ele como se dando continuidade ao que havia ficado pendurado ainda há pouco. Estão a ver, não é? Aqueles amigos com quem, por mais anos que passem, uns instantes são suficientes para encurtarmos a distância do tempo e do espaço e alargarmos a cumplicidade por meio das memórias de quando a nossa biografia se cruzava todos os dias.

Pois é de um conjunto de pessoas que têm, entre outras, qualidades como as dos amigos que gostava de dizer algumas coisas. Por um lado, porque todos os dias penso que não fazem ideia de como este ano veio enriquecer o meu caminho. Depois, porque não tenho jeito nenhum para guardar segredos destes de que toda a gente deve saber!

Quando me mudei, nem tudo me parecia justo: a alegria e a surpresa de ser desafiada a fazer parte da equipa Way Beyond tinha significado deixar de partilhar o dia-a-dia com pessoas de quem gosto muito e com quem aprendi tanto do que sou e sei hoje e deixar um lugar que me era familiar e um projecto que me era muito querido. Nem tudo era familiar ou fácil, é verdade: afinal, nos últimos 10 anos, eu tinha trabalhado em universidades e a experiência no mundo corporativo tinha sido muito esporádica e as crenças que trazia, assentes na experiência que tinha tido nos únicos quatro (horrorosos!) meses que trabalhei numa empresa e no sonho antigo de fazer a minha vida profissional exclusivamente na Universidade, ameaçaram bloquear-me durante algum tempo.

Por outro lado, eu não conhecia por aí além a maior parte das pessoas da Way Beyond, mas o estranho é que parecia que sim. Então, de onde vinha aquela sensação de já fazer parte há muito tempo? A sensação era mútua, o que muito me alegrou e ajudou a crescer ao longo deste ano desafiante especialmente por me ter alertado para as virtudes de questionar crenças e hábitos, desenhar novas possibilidades e, acima de tudo, (treinar) aceitar as minhas vulnerabilidades (e sabe deus o que isso me custava!, ainda custa, vá).

Por isso, nem tive grande tempo para dar ouvidos àquelas inquietações porque as pessoas incríveis que já lá viviam me deram um tempo demasiadamente generoso para chegar, descobrir, conhecer e encontrar o meu lugar, sem me aperceber sequer de que durante tantos anos tive tanto medo do escuro!

Por isso, a Ângela, o João, a Inês, a Sónia, a Teresa, a Lígia, a Ana e o Vítor, estão já todos sob o desígnio daquelas pessoas que ficarão para sempre connosco porque se dão e nos dão o tempo bastante para aprendermos, partilharmos e acomodarmos linguagens e nos deixam percorrer o nosso canto com um tempo próprio*, equilibrando confiança, responsabilidade, dúvidas, conquistas. Permitindo-nos encontrar o nosso lugar que é, a certa altura, mais seguro do que quando iniciámos o caminho. Assim, naturalmente, num exercício permanente de empatia e transparência e honestidade asseguradas, entre outras, pelo prazer de conversar e de descobrir o outro e pelo orgulho de o ver descobrir e encontrar o seu propósito no geral e, em particular, num projecto que se pretende, acima de tudo, integrador da sabedoria e qualidades de cada um dos que dele fazem parte.

E depois eles também me permitem que escreva assim: à medida que corre o pensamento, tantas vezes confuso. A saltar de tema para tema, finalmente capaz de assumir o que ainda não sei, aquilo de que gosto e de que não gosto e o que sou, orgulhosa das 10 palavras que, ao fim de um ano, escolho para descrever a curta biografia de quem vai perdendo o tal medo do escuro: curiosa, atenta, cuidadora, com poucas raízes e coração altamente voador.

Uma última coisa que tenho como mais do que certa é a beleza e o conforto do sentimento de que, por mais anos que ainda não tenham passado, construímos esta relação sobre os alicerces da confiança, da curiosidade, do respeito, do tempo do outro, do amor. E isto é tudo o que a minha duração precisa: saber que as pessoas de quem escolho estar perto e que me escolhem a mim acreditam que somos mesmo o mais precioso das vidas uns dos outros.

E Maio sempre foi dos meus meses favoritos. Mas não foi para falar de mim que aqui vim, mas sim do que faz da Way Beyond uma casa onde se quer viver e conviver!

Viva Maio, vivam vós! Obrigada!

*No significado atribuído por Rilke: existência.

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